O modo como lidamos com a informação na Internet e com a possibilidade de acesso rápido a diversos conteúdos influencia o modo do homem pensar. Mais do que isso, muda o nosso funcionamento biológico padrão. Seguindo o curso natural da evolução, nossos cérebros estão nos preparando para funcionarmos como ciborgues.
Conectividade com Internet influencia modo de pensar do homem (Foto: Reprodução)
Não é papo de ficção científica: as mudanças que a tecnologia causa no funcionamento da mente e do corpo humano são estudadas a sério por pesquisadores de áreas como antropologia e psiquiatria. Alguns acham que a Internet nos faz pensar mais rápido e de modo não-linear; outros, mais pessimistas, dizem que a tecnologia está nos tornando viciados em estímulos e incapazes de processar grandes blocos de informação, e recomendam mais calma.
Há uma boa chance de que você não passe muitos minutos nesta página. A maior parte das pessoas utiliza como padrão de leitura na Internet o “scanning” – ato de passar os olhos pelo texto em busca de palavras-chave interessantes – e não a leitura linear, como habitualmente fazemos com livros e revistas.
Antes um macete para ler textos longos em pouco tempo, o scanning agora é prática corriqueira para várias pessoas, tanto online quanto offline. Acostumamo-nos a “escanear” qualquer texto por conta da overdose de informações a que somos expostos na Internet. Quem nunca se pegou com dezenas de abas do navegador abertas ao mesmo tempo, cada uma com um conteúdo diferente?
O escritor Nicholas Carr, conselheiro editorial da Enciclopédia Britânica e autor de A Geração Superficial, livro que estuda os impactos da Internet no comportamento humano, diz que estamos nos programando biologicamente para esse novo jeito de consumir conteúdo. Baseado em pesquisas científicas que comprovam a plasticidade do cérebro em idade adulta, Carr defende que a Internet altera o nosso modo de pensar, de aprender e até de lembrar. “À medida que passamos mais tempo navegando, muitos de nós estão desenvolvendo circuitos neurais feitos para aumentos repentinos de atenção direcionada”, diz o especialista, na obra.
Estamos mais ágeis, mas também absorvemos menos profundamente o que aprendemos. Se por um lado conseguimos fazer o nosso foco de atenção pular facilmente entre vários assuntos, por outro perdemos a capacidade de ler grandes textos. Carr conta sobre um entrevistado que diz ter perdido a capacidade de leitura linear, o que tornava a leitura de livros – ou mesmo publicações de blogs com mais de quatro parágrafos – um sacrifício.
O próprio Carr explica como seu cérebro passou a operar: “Independentemente de eu estar online ou não, minha mente agora busca absorver informação do mesmo modo que a internet a distribui: num fluxo veloz de partículas.”
Em oposição ao scanning, um grupo de acadêmicos e intelectuais ingleses criou o movimento (literalmente “leitura lenta”), que prega uma leitura mais atenta dos textos impressos, deixando de lado a informação adquirida na internet. É algo interessante na teoria, mas, nos dias de hoje, bem difícil de ser posto em prática.
Eu, ciborgue?
Eu, ciborgue?
Qual a definição de um ciborgue? Um robô humanoide, uma mistura de ser humano com androide? Para a antropóloga Amber Case, somos todos ciborgues, e nossa parte robótica não está num braço mecânico ou numa visão infravermelha, mas sim nos nossos celulares.
Os smartphones funcionam como uma extensão da memória: dentro deles, guardamos contatos de amigos e a agenda com os nossos compromissos, além de termos acesso instantâneo a boa parte do conhecimento humano com um aparelho com boa conexão à Internet. A inteligência potencial de uma pessoa com um smartphone é diferente da inteligência da mesma pessoa sem ele. Não é exagero comparar a perda de um celular com a perda de uma parte do cérebro para a autora.
Os smartphones nos dão ainda outro superpoder: a capacidade de dobrar tempo e espaço e entrar em contato com qualquer pessoa a qualquer momento. É possível ligar para um amigo a qualquer instante. Se ele não atender, é possível deixar uma mensagem ou um recado na sua página do Facebook. “Não é que estejamos conectados a todo mundo o tempo todo, mas podemos nos conectar com qualquer um a qualquer momento”, explica Case em umapalestra disponível no site TED.
Um smartphone cria facilidades incríveis, mas também situações desconfortáveis: ao carregá-lo no bolso você está levando consigo uma sala repleta de amigos, parentes, colegas e eventuais chatos que você não gostaria de conviver, mas que têm acesso a você a qualquer hora. Com tantos estímulos permanentes é difícil parar, relaxar e refletir.
A perda da capacidade de autorreflexão das pessoas é uma das principais preocupações da antropóloga: “elas não desaceleram, não param, já que estão sempre rodeadas por estas pessoas na sala competindo pela sua atenção”.
Vício em Internet
A Internet pode ativar em algumas pessoas as mesmas áreas do cérebro que certas drogas. O Facebook, por exemplo, tem um grande potencial viciante: cada nova mensagem recebida tem o potencial de liberar substâncias no cérebro que causam prazer. Por isso tantas pessoas sentem urgência em acessar suas redes sociais a cada minuto.
Mas calma! Sentir prazer em navegar na Internet não faz de ninguém um viciado. Segundo o psiquiatra e coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas, Daniel Spritzer, a adição ocorre somente quando o comportamento causa prejuízo ao indivíduo.
O especialista lista os componentes que caracterizam o transtorno: 1) uso intenso da Internet, geralmente associado à perda da noção de tempo ou mesmo negligência de atividades importantes; 2) necessidade de utilizar a Internet por um número cada vez maior de horas; 3) abstinência, irritabilidade, tensão e até mesmo sintomas depressivos quando o acesso à rede não é possível 4) prejuízo em áreas importante da vida (acadêmico, profissional, social, familiar, financeiro ou legal).
Causa ou consequência?
Apesar de pesquisar o “lado negro” da tecnologia, Spritzer não considera o impacto da Internet na mente humana como invariavelmente negativo. “Acho importante pensar que a nossa memória não precisa funcionar do mesmo jeito ao longo dos tempos”, opina.
O psiquiatra acredita que a velocidade e imediatismo da Internet são derivadas do modo de vida atual, e não o contrário. Em outras palavras, com ou sem a Internet o mundo nos forçaria a adquirir conteúdo o mais rápido possível: “Neste sentido, a tendência de ir atrás do conhecimento de uma maneira mais exploratória que profunda parece ser uma decorrência da quantidade cada vez maior de informações necessárias para a vida contemporânea.”
Culpa da Internet ou da vida contemporânea, é inegável que nossos hábitos mudaram. Estamos muito mais seletivos com a informação que consumimos: chegar ao final de um texto longo pode representar um grande número de atividades que tiveram que ser postas de lado. Se a informação não parece interessante numa primeira análise, já a descartamos e seguimos para a próxima. Se você chegou até aqui, parabéns!
Fonte: http://www.techtudo.com.br/curiosidades/noticia/2013/01/conheca-os-efeitos-da-internet-na-cognicao-humana-segundo-especialistas.html
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